Depois de prender no peito a vontade de falar
Abracei minha viola pra agora desabafar
As coisas que hoje vejo nem podia imaginar
Que um dia aqui na roça pudessem também chegar
É cada cena maluca que eu fico a assuntar
Que nem sei o que fazer, se é pra rir ou pra chorar
Então fico matutando onde isso vai parar

Agora que comecei o restante vou contar
A mudança começou com o tal de celular
Que minha velha comprou sem saber como usar
Chamou toda a filharada pra esse bicho destrinchar
E mexendo pouco a pouco aprendeu fotografar
A loucura foi completa, quando começou filmar
Usam esse trem pra tudo, menos pra telefonar

Minha velha entrou na rede, diz que é pra socializar
Conheço é rede de pesca e outra pra descansar
Vive só fazendo pose, tira fotos sem parar
Riso falso e biquinho, coisa estranha de lascar
Usa até um tal de filtro pras rugas amenizar
Certas marcas da idade nada pode disfarçar
Vai ficando esquisita quando tenta remendar

Pouco a pouco a molecada também resolveu comprar
E essa rotina estranha agora vive a espalhar
Caipirada tá metida, se acha em outro lugar
Se eles são a maioria, bobagem querer mudar
Então matutei um jeito e esse bicho vou domar
Pra entrar nessa bagaça, vou comprar um celular
Depois se sobrar um tempo, volto a roça capinar